Avaliando o Histórias....
O Projeto histórias de vidas vividas encerrou este mês de setembro a etapa de trabalho sob responsabilidade do bolsista Marcus Guimarães, por isto, um momento propício para uma avaliação. De forma muito sintética podemos e devemos dizer que este foi um ano difícil de trabalho pelos mais diferentes motivos: mudança de horário de aulas dos alunos da Ilha que participam do projeto; incompatibilidade de horário entre os membros participantes; limitações logísticas importantes tais como a falta de condução gratuita para ir à Ilha aos Sábados e a falta de um bom equipamento portátil para os trabalhos de edição das imagens. Foi um ano de ‘insistência’ e ‘resistência’. Resistimos e insistimos e conseguimos cumprir com o compromisso acadêmico, mas não conseguimos ficar felizes. Queríamos que as atividades fluíssem, e queríamos ter concluído todas as etapas.
Esta segunda etapa do projeto Histórias de vidas foi marcada por dificuldades logísticas que comprometeram a finalização das atividades. Entre as dificuldades destacamos: a alteração do horário escolar dos participantes ilhéus que somente permitia reunir todo o grupo aos Sábados; o uso das viaturas aos sábados condicionada ao pagamento das diárias dos motoristas (responsabilidade que recaiu sobre o coordenador do projeto que por este motivo limitou o número de encontros - que, infelizmente, eram fundamentais para a edição do material audiovisual); a falta de computadores portáteis com capacidade para execução da edição do material - especialmente das imagens em movimento (para a realização, parcial do material coletado, é necessário que se diga, utilizou-se o computador pessoal do coordenador do projeto).
Por tudo isto, somente dois encontros com os participantes ocorreram, e neles conseguiu-se organizar o material audiovisual em arquivos temáticos com a identificação das entrevistas e entrevistados, bem como verificar e identificar a autoria da maior parte das fotografias. Para compensar as falhas logísticas que impediram a conclusão do trabalho de edição por parte dos ilhéus, o acadêmico bolsista produziu um vídeo síntese a partir do material videográfico coletado durante as duas etapas do projeto.
Da mesma forma, para compensar o trabalho de edição não realizado, coordenador e bolsista procederam uma análise da prática audiovisual como recurso metodológico à pesquisa de histórias de vidas, bem como análises específicas quanto ao uso feito pelos ilhéus, da fotografia, do vídeo e do recurso ao texto. As análises e reflexões foram apresentadas em eventos acadêmicos e publicadas em anais .
Apesar das dificuldade encontradas nesta etapa podemos dizer que os objetivos do projeto foram alcançados já que a pesquisa de levantamento de dados foi executada pelos próprios habitantes da Ilha e que o exercício de mostrar as especificidades geográficas e culturais da comunidade, em interatividade com pessoas externas à comunidade, utilizando recursos audiovisuais, permitiu aos participantes autóctones experimentar redescobrir sua comunidade. A presença dos pesquisadores proponentes do projeto, durante as atividades, motivou os participantes este olhar de revisão a partir do qual eles experimentaram as ferramentas que lhes foram oferecidas. E deste fato decorreu, por sua vez, um processo marcado pela retro-alimentação e, muitas vezes, pela troca de papéis: ora uns foram aprendizes, ora professores e especialistas.
Podemos ainda dizer que esta situação se refletiu e determinou os fazeres dos moradores, os participantes do projeto: isto ficou evidente no esforço que fizeram tanto para entender aos proponentes, quanto para utilizar os equipamentos, fato constatável através escolha dos enquadramentos das fotografias e das imagens em movimento, e na formulação das perguntas para os entrevistados.
Podemos ainda dizer que o conjunto da experiência vivida foi autorreveladora, porque o método audiovisual de levantamento de dados pelos próprios protagonistas das histórias - a diferença de quando são feitos pelo pesquisador, estrangeiros aos locais das pesquisas - além de ‘mostrar’ as paisagens, as pessoas e as atividades que em seu conjunto constituem o objeto de estudo, revelou ainda, através dos modos de fazer (enquadramentos, ângulos, distâncias focais), aos os jovens moradores. Em resumo, os vídeos e as fotografias são ‘videos-fotos-ensaios’ porque não se restringem ao que mostram – dados históricos e memoriais - mas também a ‘quem os mostra’ e ‘de que maneira este mostra’ (singularidades do sujeito histórico). Neste sentido é possível dizer que foi um trabalho etnográfico em primeira pessoa.
Parte do acervo audiovisual sistematizado durante as atividades, bem como reflexões pertinentes as ações do projeto Histórias de vidas vividas, pode ser encontrado no blog /arquivo/diário das atividades e interatividades. Histórias de vidas vividas atualmente é filiado ao Brasil Memória em Rede , uma organização que congrega e divulga projetos localizados em diversos pontos do Brasil de trabalhos dedicados ao resgate da história e das memórias locais através da instrumentalização dos seus atores sociais e protagonistas.
Em razão das limitações encontradas durante este segundo ano daremos ‘um tempo’ nas atividades, atéque encontremos condições materiais/tecnológicas mais favoráveis.
Compartilho abaixo parcialmente a avaliação feita no final desta etapa.
Discussão e Conclusões
Nesta fase conclusiva dos trabalhos, colocamos em destaque, para além dos objetivos previstos e dos resultados alcançados, aquilo que consideramos nossa maior conquista e aprendizagem desta experiência: a oportunidade do encontro e da convivência entre os participantes e os proponentes do projeto. Foi uma experiência na qual todos aprenderam a aprender. Neste sentido vale enfatizar que os proponentes, entre outros conhecimentos, aprenderam a flexibilizar seus propósitos, aprenderam a adaptar seus métodos e especialmente aprenderam que trabalhos que envolvem pessoas e suas vidas não podem ser desenvolvidos visando prazos e compromissos acadêmicos, porque pessoas não são ‘objetos’ de estudo no sentido usualmente atribuído ao termo. ‘Objetos’ são coisas as quais é possível ‘usar’ e descartar sempre que não for mais ‘necessário’. Confirmou-se assim o que com anterioridade entendiam os proponentes: que trabalhar com pessoas significa trabalhar com o ser humano, com suas idiossincrasias, seus sonhos, seus desejos, suas disponibilidades e seus limites... Implica relacionar-se e comprometer-se, uma tarefa delicada. Pessoas não podem ser ‘usadas’, acionadas e desligadas, ou descartadas quando finalizada a atividade.
Perspectivas de continuidade e possibilidades de desdobramento do trabalho?
Sim, pretende-se dar continuidade a pesquisa, desde que assegurados por uma logística que permita concluir todas as atividades planejadas. As dificuldades encontradas refletiram sobre o acadêmico bolsista que sentiu-se lenta e gradualmente desestimulado.
A continuidade deste projeto reside na certeza que temos da sua importância enquanto uma iniciativa que pode contribuir para o autoconhecimento e consequente auto-estima dos grupos sociais, porque é através deste tipo de ação que a sociedade poderá entender e demonstrar que a história da humanidade não se restringe aos grandes fatos, às ações heróicas, às hecatombes - embora tenhamos sido historicamente convencidos disto - e que tampouco o patrimônio histórico se restringe aos artefatos materiais porque a história da humanidade se conforma com o computo de todas as histórias de vida de todos grupos sociais, e que ela se tece a partir de pequenos nós, alguns aparentemente mais importantes, outros nem tanto. E neste sentido é importante defender que a importância histórica atribuída às coisas e aos fatos não é um fenômeno natural, pelo contrario, é decisão humana, atualizada cotidianamente. Da mesma forma que é inventada ‘a história da humanidade’: ela é e deve ser uma narração escrita no tempo por muitas pessoas...
Recado à Lilian, Roger, Bruno e Fabi:
Logo que for Possível vamos a Ilha para nos vermos e para planejarmos a continuidade do nosso trabalho.
Um forte abraço,
Teresa lenzi
05 de s