Foram dez meses de atividades efetivas, distribuídas em ações complexas e diversas, que merecem ser destacadas para que possam adquirir ‘materialidade’ e ‘visibilidade’, quais sejam:
1. Os proponentes do projeto, reuniram-se em todo este período, semanalmente, para planejar as atividades, bem como avaliar aquelas em andamento e/ou desenvolvidas;
2. As atividades de saída de campo / vivências, sistematização de dados (incluindo a etapa de pós-produção do material audiovisual), com a participação de proponentes e participantes do projeto, perfez um total de 54 encontros;
3. Os resultados obtidos com as atividades de campo e vivências está traduzido em um conjunto de mais de 900 fotografias, oito horas de gravações em vídeo, e nos diários de bordo dos proponentes e participantes;
4. As pesquisas de campo, desenvolvidas a partir da pauta temática definida pelos participantes compreendeu os seguintes aspectos: café português, Jurupiga, Festa da Nossa Senhora da Saúde. Todos estes temas foram investigados e registrados através de fotografias, vídeos (entrevistas com os habitantes da ilha), e diários de bordo;
5. Foram entrevistados neste período, entre outros, os seguintes ilhéus: Seu Pedrinho e sua esposa Dona Neuci (aulas magistrais de vida e de conhecimento!), Seu Oswaldo (que nos ensinou sobre agricultura e parreiras...), Dona Icléia, ‘a Filha da Titilha’ (e suas lembranças muito particulares e femininas), Dona Marilaine (a mãe da Fabiane, que nos ensinou tanto sobre tantas coisas, especialmente plantas e caranguejos...), Seu Bilio (que fez relatos importantes sobre a festa da Chita!), O pai da Fabi (uma experiência prática sobre a pesca em condições ‘reais’!), a ‘Avó da Fabi’ (tantas lembranças...), A Beth (agricultora, plantadora de uvas, encarregada da merenda da escola e tantas outras coisas mais!), Rosangela e Hermes (Jurupiga, Geleia, pão caseiro, correio alternativo... Obrigada pelo sorriso!). A lista é muito mais ampla...
Dez meses de trabalho e responsabilidade, dez meses de conquistas e, especialmente, dez meses de aprendizagem (aspecto que já destacamos em outros escritos).
De todos os modos, ainda sem ter encerrado definitivamente as atividades, já podemos afirmar, sem dúvida e erro, que atingimos nosso objetivos, que cumprimos nossas metas, e que, superamos nossas expectativas e perspectivas. E que, de fato, aprendemos muito, tanto no que se refere aos aspectos mais objetivos, práticos e visíveis, quanto aos aspectos ‘imateriais’.
No que diz respeito aos aspectos mais práticos e materiais – organização, logística e materialização das atividades – temos que reconhecer que aprendemos com esta vivencia que determinados conhecimentos somente podem ser dimensionados e adquiridos através da prática. A experiência adquirida através das ações concretizadas – reuniões e oficinas, saídas de campo, processos de captura, organização e pós-produção de imagens - em sua maioria atividades coordenadas e viabilizadas pela Roberta Cadaval, exigiram uma continua avaliação, reformulação e por consequência, flexibilidade. Este foi um grande primeiro aprendizado. A proposta de um trabalho co-participado, que significa trabalhar com pessoas, e ao mesmo tempo, em razão das características do projeto – em um lugar que exigia deslocamentos e uso de equipamentos audiovisuais – com a complexidade, exigiu durante todo o período, a concatenação de muitos elementos. Foi preciso coordenar os tempos e disponibilidades dos proponentes e participantes, uma tarefa complexa. Ao tempo e disponibilidades dos integrantes em seu conjunto, foi necessário coordenar a disponibilidade das viaturas – nem sempre possível. E foi ainda necessário ser flexível com as condições climáticas e com o funcionamentos dos equipamentos. Aprendemos que, em situações de tanta complexidade e que envolvem grupos de pessoas, as previsões de tempo de trabalho devem ser maleáveis. Neste sentido, Roberta demonstrou preparo pois, manteve-se serena e foi capaz de encontrar soluções e alternativas para os muitos inconvenientes ocorridos durantes estes dez meses.
Do aprendizado com a complexidade da proposta, em seus aspectos mais conceituais e imateriais, destacamos que foi possível, para nós proponentes, reafirmarmos a nós mesmos, algo que já sabíamos, mas que, em função do vivido, adquiriu outras proporções: o respeito e cuidado que se deve ter com as pessoas envolvidas neste tipo de proposta que tratam de Histórias de vidas. Trabalhar com histórias de vidas, significa, trabalhar com as pessoas, com o ser humano, com suas idiossincrasias, sonhos, desejos, disponibilidade, limites... Pessoas não são ‘objetos’ de estudo no sentido usualmente atribuído ao termo. ‘Objetos’ são coisas das quais podemos fazer uso, lançar mão, mover de um lado a outro, descartar quando julgamos já não mais ‘necessários’. Trabalhar com pessoas significa relacionar-se e comprometer-se, uma tarefa delicada. Não podemos ‘usar’ as pessoas, acioná-las e desligá-las, ou descartá-las quando concluída a atividade. Tarefa delicada...
Por esta razão, entendemos que este foi o maior aprendizado, na prática! Nós sabíamos disto desde o princípio e tivemos isto em mente todo o tempo, e ainda assim, aprendemos, porque fomos surpreendidos pela prática. Por exemplo, a cada vez que uma viatura não podia ser utilizada, a primeira preocupação que nos ocorria era: é necessário informar ao grupo! Sabíamos que eles, nos dias agendados para as atividades, com chuva ou com sol, com trabalhos escolares a cumprir, que eles estariam no local combinado à espera da viatura e dos equipamentos. E sabíamos o quanto de esforço, por parte deles estava implicado.
Por fim, está é uma pré-avaliação, uma maneira de começar a juntar os pedacinhos... entre outras, tais como o trabalho que a Roberta está desenvolvendo com o grupo, de sistematização e edição do material audiovisual. Há muito trabalho ainda por fazer se quisermos cumprir o objetivo final de tornar acessível ao público os resultados desta intensa e complexa vivência.
Teresa lenzi
12 07 09
1. Dona Icléia e suas delicadas 'memórias'. Março de 2009. Foto: Teresa Lenzi.
2. Fotos do acervo da Roberta, Fabiani, Lilian, Bruno e Roger. Montagem: Roberta Cadaval. 'Dos caminhos percorridos'.