*reflexões suscitadas a partir do projeto de pesquisa Histórias de Vidas Vividas
Ontem, na companhia do Claudinho, meu esposo, assisti ao filme "Uma Vida Iluminada", que tratava sobre questões referentes à memória e à importância de preservá-la. Contava a história de um colecionador (que colecionava elementos que faziam referencia a determinadas situações, pertences pessoais de algumas pessoas, construindo assim um acervo de objetos que, de certa forma, preservavam a existência daqueles indivíduos.) que através de uma fotografia, que havia sido de grande importância para o seu avô, resolve ir atrás daquele passado vivido pelo mesmo. Enfim, ao final do filme, peguei três fotografias que tenho na cabeceira de minha cama, duas de minha avó materna e uma de meu bisavô materno. Ao (re)ver aquelas fotografias naquele momento, vinham a minha mente a curiosidade de reconstituir aquele momento, efêmero, fixado pela luz. Ao ver minha vó, tão pequenina – ainda criança –, com aquelas roupas antigas e escuras, meu bisavô com fisionomia séria, sentado a um banco de praça, com vestes tradicionais aquele tempo, me vinha a sensação de estar trazendo eles de volta a vida, com aquelas imagens sempre “a mostra” na cabeceira de minha cama.
Ao mesmo tempo, nos olhos de meu bisavô que me fitavam e no olhar distante de minha avó, sentia uma sensação de agradecimento pela vida, pois um passo diferente que ambos tivessem tomado em suas vidas e, hoje, eu não estaria aqui. Ainda comentava com o Claudinho: “Já pensou que, se ‘esse carinha aqui da foto’ não tivesse feito a minha avó, a vida de muitas pessoas seria tão diferente? Primeiro que meu avô teria trilhado outro caminho, conhecido outra mulher e tido, talvez, outros filhos. Segundo que assim, nem minha mãe, nem nenhum dos meus quatro tios teriam existido, conseqüentemente, nenhum de meus primos. Ou seja, tudo isso envolve muitas pessoas: meu pai, os maridos e esposas de meus tios, todos teriam uma história de vida completamente diferente hoje.”
Fico pensando em como é louco tudo isso e que a vida realmente é um sopro! E o que vale viver? O que fica de cada um de nós no lugar onde vivemos, ou que vivemos durante um período? Qual a real importância das memórias e histórias de vida, para a história de um lugar, de uma cidade ou comunidade? Acredito que isso é o que há de mais importante na história de um lugar, as histórias de vida. Pois são elas que fazem com que aquele lugar seja desse ou daquele jeito. São as teias de relacionamentos, de percepções diante daquilo que cada um vê, os modos de ver particular de cada um, que constituem um sujeito e tudo isso envolto nas teias de relacionamentos, de pensamentos compartilhados. Sem as pessoas e essas relações, o quê faz sentido na história de um lugar?! Senão as histórias daquelas pessoas que constituem aquele lugar?!
Todas essas situações vividas e percebidas por mim nos últimos dias, me causaram uma certa nostalgia e me provocaram a ir além com essa pesquisa. Como reconstituir a paisagem da minha cidade, através das histórias de vidas vividas e lembranças de moradores de Rio Grande? Através de fotografias dessas pessoas, reconstruir os lugares nos quais essas pessoas viveram, e representar (registrar) com outras imagens fotográficas como esses lugares estão hoje. O quê fez e o que faz parte desses lugares hoje. Como o atual “desenvolvimento” da cidade do Rio Grande vem sendo percebido pelos moradores mais antigos da cidade? E como isso tem refletido nos hábitos e costumes dessas pessoas e suas famílias?
Reflexões para uma pesquisa futura...
02 de maio de 2009
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